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Cubículo de proteção contra surtos: por que é essencial em sistemas de média tensão

  • Foto do escritor: BTM
    BTM
  • 19 de ago.
  • 3 min de leitura

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Uma única descarga atmosférica pode causar prejuízos expressivos em uma usina hidrelétrica. 


Eventos como este não são exceção no Brasil. Dados do INPE mostram que nosso país recebe cerca de 50 milhões de descargas atmosféricas por ano, sendo o campeão mundial em incidência de raios. Para sistemas elétricos de média tensão, isso representa um risco permanente que exige proteção especializada.


É neste cenário que o Cubículo de Proteção contra Surtos (CPS) se torna não apenas uma recomendação técnica, mas uma necessidade crítica para preservar investimentos e garantir continuidade operacional.



A física dos surtos e seus efeitos devastadores


Para compreender a importância do CPS, precisamos entender como surtos atmosféricos se comportam em sistemas elétricos. Uma descarga atmosférica típica carrega corrente de 30.000 ampères com tensões que podem superar 1 milhão de volts.


Quando um raio atinge uma linha de transmissão, a onda de sobretensão se propaga à velocidade da luz em ambas as direções. Em sistemas de 13,8kV, uma sobretensão de 100kV pode chegar aos equipamentos em microssegundos, muito antes que proteções convencionais consigam atuar.


O problema se agrava porque os transformadores de potência suportam apenas 10% de sobretensão de forma contínua. Picos acima de 150% da tensão nominal, mesmo que durem milissegundos, podem causar falhas na isolação que se manifestam semanas ou meses depois.


Estudos do CIGRÉ mostram que 40% das falhas em transformadores de distribuição estão relacionadas a sobretensões transitórias. O custo médio de substituição de um transformador de 2MVA supera R$ 800 mil, sem contar a produção perdida durante a parada.



Surtos de manobra e sua importância subestimada


Engenheiros frequentemente focam apenas na proteção contra descargas atmosféricas, negligenciando surtos de manobra que podem ser igualmente destrutivos. Operações de chaveamento em sistemas de média tensão geram sobretensões que variam de 150% a 400% da tensão nominal.


A abertura de um disjuntor de 24kV sob carga indutiva pode gerar surtos de 60kV ou mais. Em sistemas com longos cabos subterrâneos, o fenômeno se intensifica devido às capacitâncias parasitas. Uma operação aparentemente rotineira pode danificar isolações e reduzir vida útil de equipamentos.


A severidade dos surtos de manobra depende de fatores como potência de curto-circuito do sistema, tipo de carga, comprimento de cabos e velocidade de atuação dos disjuntores. Sistemas industriais com muitos motores são particularmente suscetíveis.



Aplicações críticas do CPS


O CPS encontra aplicação essencial em usinas hidrelétricas, onde transformadores elevadores podem custar milhões e têm prazos de entregas mais extensos. Uma falha pode interromper geração por tempo prolongado, causando prejuízos enormes.


Em indústrias de processo contínuo como siderúrgicas e petroquímicas, paradas não programadas podem gerar custos elevados por hora. A proteção contra surtos é investimento que se paga na primeira falha evitada.


Subestações de distribuição urbana requerem confiabilidade extrema. Uma falha em transformador de 25MVA pode deixar milhares de consumidores sem energia, gerando multas regulatórias que superam valores expressivos por evento.



Aterramento: o fundamento da proteção eficaz


O melhor CPS do mundo é inútil sem sistema de aterramento adequado. Resistência de aterramento elevado compromete a capacidade dos para-raios de drenar correntes de surto.


Para sistemas de 13,8kV, é recomendado que a resistência de aterramento seja sempre a mais baixa possível. Em solos de alta resistividade, isso pode exigir malhas complexas com hastes profundas ou eletrodos químicos.



Tendências futuras: proteção inteligente e adaptativa


A proteção contra surtos evolui rapidamente com a digitalização dos sistemas elétricos. 

Para-raios inteligentes incorporam sensores e processamento local, fornecendo dados detalhados sobre cada evento.

Algoritmos de machine learning analisam padrões históricos para prever comportamento futuro. Sistemas adaptativos ajustam níveis de proteção baseados em condições operativas e meteorológicas.


A integração com sistemas de previsão meteorológica permite preparação antecipada para tempestades severas. Proteções podem ser sensibilizadas automaticamente quando condições adversas são previstas.






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